Sua infância



                        Escrito por: Larissa Inoêncio - aluna do 2º ano F

Já não dá mais para se cuidar sozinho.
-Bom dia!
-Só se for prá você.
O fato de não poder cuidar-se mais, não lhe satisfaz.
-O que é que pensa que está fazendo?
-Ajudando-lhe.
-Mas, consigo me virar sozinho. –Ele já tinha as pernas entrevadas, as vistas embaraçadas e a diabetes nas alturas.
-O que faz aqui? Porque veio?
-Quero só ser sua amiga.
-Não gosto de amigos.
-Então posso te acompanhar?
-Já lhe falei que não.
-Aceita algo?
-Sim, doces de abóbora.
-Vou pegá-los.
-Mas tem que ser do bar do seu Chiquinho.
-Já está aqui.
-Não quero este! O bar fica na rua das Palmeiras, e tem a porta amarela.
-Não posso lhe deixar, temos que ficar juntos.
-Minhas pernas já não são aquelas coisas.
-Então não posso ir.
-Ou você vai ou não tomo aquele remédio.
-Mas o senhor tem que tomar os remédios.
-Só se comer doce antes.
-Está bem, se você fizer tudo o que eu pedir, buscarei o doce.
Para tomar os remédios, fazer sua higiene pessoal, é essencial que lhe façam uma troca favorável.
Sem pressa e amigavelmente muda completamente seu comportamento.
A porta fecha-se em um clique, e suavemente o carro se arranca.
-Senhor Zé, aqui está o seu doce.
-Há quanto tempo não como esse doce. Muito obrigado, minha netinha.
-Seu Zé, sou Maria, a enfermeira.
-Não estou doente. O que faz aqui?
-Quero só ser sua amiga, não vou lhe fazer mal, só lhe ajudar.
-Quem te chamou aqui?
-O Marcos.
-Mas quem é Marcos? Não conheço nenhum.
-É o seu único filho.
-Não tenho filho.
À tarde na cozinha, o pires e o copo se chocam.
-Mas já que está aqui, o que vai me dar?
-Vamos tomar um remedinho?
-Só se você me der um doce.
-Doce de que?
-Cocada lá do seu Chiquinho.
-Já está aqui!
-Obrigado, minha netinha.
A idade e o tempo passam, mas sempre retornamos à nossa infância.